31 de ago. de 2011

Sabedoria de mãe

Ao vermos um pai e seu filho numa divertida pescaria dominical, minha mãe me perguntou: "Filha, você não gosta de pescar? Resondi de imediato que eu já havia gostado, nos meus tempos de menina quando, ao invés de dormir até tarde aos domingos, saíamos eu e meu pai portando varas de bambú, anzóis e migalhas de pão, a procurar rios ou lagos pelas estradas do interior. Mas, continei a explicação a minha mãe, "deixei de gostar quando hipotetizei, após longo questionamento, que para o peixe essa prática poderia não ser tão divertida quanto era para mim. A partir de então, procurei me divertir de maneiras nas quais tivesse a certeza de que não estaria provocando, às custas do meu divertimento, o não divertimento de outrem (vide, seres humanos e/ou outros animais)". Hoje, passados muitos anos desse questionamento estranho (ao se tratar de uma garota no auge dos seus 11, 12 anos), pensando friamente sobre essa decisão e considerando aquele efeito de distanciamento - só proporcionado pelo tempo - que desloca os acontecimentos temporalmente longínquos para um plano imaculado, doce (mesmo que amargos tenham sido) e quase ficcional, penso que essa decisão aparentemente altruísta (mas recheada daquele egoísmo auto-satisfacional que nos leva às decisões aparentemente altruístas) pode ter sido a primeira migalha do meu aparentemente eterno conflito com a maneira utilitarista com a qual lidamos com o mundo, inclusive uns com os outros; conflito este que me coloca tão aflitamente constrastada com todo o resto - inclusive comigo - que torna quase impossível meu atuar profissional e meu viver humanóide. Minha mãe, após minha longa e metódica resposta à sua pergunta, me disse que não era possível mudar o mundo, ao que eu respondi que de forma alguma eu tentava mudar o mundo, estava apenas respondendo à pergunta que ela me fizera. E então, mamãe disse: "mas você não precisava dizer tudo isso pra responder minha pergunta. Você podia simplesmente ter dito: não". Quando eu crescer, quero ser sábia igual à minha mãe.

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