9 de fev. de 2011

A fundo

Ela levantou-se no mais tardar de sua hora inventada e pôs-se a pensar como se sonhasse.
Não saciou sua fome de prazer, deixou a cafeína posta à mesa e o cigarro deitado no canto dos olhos.
Fumou as rosas do jardim e bateu a porta da frente tão forte que estremeceu seu corpo vil.
Tirou a camisola suada de sentir e correu pelo asfalto escaldante de uma noite inteira.
Correu, reluzente em cada centímetro seu, suas pernas e busto desnudos, dançando suaves no bailar dos seus olhos de gato, sorrateiros, mareados, ressacados.
Suas mãos sedentas e cansadas de noite estendidas ao céu, como que procurando a redenção inatingível da pureza maltratada, submissa, arrependida, desejada.
Assim ela partiu, com sua pele sonhada de nanquim e madrepérola, seus olhos fixos no sem fim do asfalto, cabelos longos confundindo a silhueta e a boca, seca, úmida de palavras e fios e nós.
Correu como se fugisse, partiu como se ficasse, queimou como se chovesse.
Derreteu-se debaixo de uma árvore, as costas repousadas no tronco áspero, as pernas encolhidas sobre o peito, um braço repousado nos joelhos, o outro levantado à sua frente, doce frente.
Escorreu-se seu sussurrar de baixo tom, temperando a relva do fim de tarde.
Amou como pôde.
Reinventou sua hora marcada e deitou-se,
Como se vivesse.

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