14 de mar. de 2011

Graça

Hoje tive alguns encontros com o passado.
Um passado tão próximo, tão vivo, e tão longínquo.
Creio que o que me levou às recordações foi um almoço solitário num restaurante lotado. Solitário, não sozinho. E por opção.
Cumprimentei a invisibilidade do moço que retirava os pratos, enquanto me dava conta da minha própria, também a ele. Achei graça.
Graça, outro encontro. Hà tempos não encontrava essa ótica.
Encontrei a falta de civilidade ao me deparar com a insignificância da faixa de pedestres desses lados tropicais. Mas me lembrei, de cara, da falta de humanidade também tão realçada onde as faixas têm seu poder.
Engraçado, foi o achar da graça.
Talvez tenha se dado por ouvir um alerta de mensagem de um celular que eu já não tenho mais, meu antigo companheiro nos mares do norte. O sms não era pra mim, desta vez. A lembrança, em contrapartida, sempre será.
Outonos de olhos e ouvidos, folhas do Porto, música doce de praça, neve de Seia, blusa de lã cheirosa, mar de África, cores de jardim. Fotografias que não se rendem ao amarelar do dia, dos meses, dos anos, se assim for preciso.
A graça pode ter ar de tristeza. E por isso mesmo, é ainda mais bela e doce. Azul, mesmo com chuva fina na janela do carro estacionado, esperando pelo doce amargo do café.

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