15 de jul. de 2010

sim

O não é uma palavra importante
Não sei se consigo extrair dela muita beleza, mas sei que há alguma
Talvez a beleza se esconda na força que o advérbio traz
Ou ainda, na nossa própria, ao tê-lo no pé do ouvido

É fato que muitas vezes também é difícil tê-lo como um nó na garganta, esperando pra ser pronunciado
Principalmente quando, ao pé da mente, ou do coração, temos a consideração
Ou ainda quando, ao invés desta última, nos sobra a piedade

Na verdade, não me agrada muito nenhum destes últimos substantivos
Nem tampouco o advérbio
Não tanto pelo seu uso em si mesmos, mas mais pela culpa que eles deixam pelo caminho
Um amargo na boca, nos ouvidos, na consciência
Não posso, contudo, deixar de considerá-los necessários

Talvez a beleza se encontre na complexidade humana,
na arte de transfigurar substantivos, adjetivos, advérbios
na capacidade de afirmar nos lábios uma negativa expressa nos olhos e jeito
ou de negar nas palavras uma afirmação clara no peito
Talvez a beleza esteja na expressão silenciosa de substantivos nem tão belos
ou na interpretação muda destre silêncio gritado aos quatro outros sentidos

Talvez a beleza ensinue-se no agir, perante a necessidade do não
na (também) arte de não tentar transformá-lo em sim quando da necessidade ou vontade,  tanto de sua pronúncia, quanto de sua escuta
no aceitar de sua real condição adverbial
e no refletir sobre suas possíveis razões de ser

Um comentário:

betucury disse...

Sim, o gosto reluta, luta novamente com essa espada flamejante, sim.
Não, o gosto realça, alça voo novamente, nesse céu onde buraco negro existe, não.
Refletimos sempre flamejantes dentro do buraco, onde silenciosamente gritamos tanto.