13 de mai. de 2010

Voando baixo

Eu vejo o mundo com a minha história.
Estava escrito num texto do Gullar, sobre a importância do olhar.
Ele falava sobre o Barroco e eu logo abstraí a época.
Extrapolei o tempo, o conceito. Não meus olhos. Não minha realidade.
Me lembrei dos dizeres da moça da fila do banco: "aqui a gente é só mais um número".
Fiquei a pensar sobre a morada do "aqui". O banco, a Universidade, o país, o Universo.
Percebi que aquela pode ser qualquer uma e que este, o último, também.
A escala não parecia importar à tal moça. Tampouco importa a mim.
"Penso mudar o mundo usando borboletas", ouvi outro dia.

A minha história conta e enumera um mundo, só meu e de todo mundo. Meu Universo, na minha casca de todos nós.
"Ilha é tudo em nós que ainda vive, cercado por tudo que mataram", disse o Oswaldo.
Essa frase sempre me causa um enrijecimento interno, como que me transpondo à sua história, tão própria.
Tão minha.
Se nossa realidade não fosse tão própria como tenta ser apropriada, veríamos a ilha como pedaço de terra.
Eu vejo-a como todo oceano.
E alguém até pode tê-la como lágrima na cara.

Estava eu vagando em números, na fila. Números próprios, cifras, e outros estatisticamente emprestados, inexistentes. Dinheiro virtual e valores tão reais, na moça ao meu lado.
Fiz juízo aos lábios, esboçando um sorisso meio contrariado.
No sensível dos meus olhos, o que me contrariou foi não acreditar em borboletas.

Um comentário:

betucury disse...

Eu rio.
Muito longe de ser oceano, ou tentar navegá-lo.
Eu rio.
Eu creio em borboletas mas em mim nem asas vejo.
Mudar meu mundo, talvez.
Tal vez mesmo, pois em outra tal vez nem mais isso eu consegui, nem consigo, nem comigo, nem com voz, nem sem ela, enfim, sem fim.
Sem fim essa jornada caravelística, tão linda e tão viril, tão luas de ser a mesma vista em postura, ou mesmo olhar olhar divergente, de ver gente diferente.
O valor da obra, da ópera está naquilo que o outro escuta.
Escutando imagens, sons, gestos e superfície, toque e profundidade.
Escuto seus versos, sua prosa e acho bonito, assim como lhe certeza