19 de fev. de 2010

Mais do mesmo

Ainda existem euros na minha carteira vermelha
No meu horizonte ainda vejo o sol se pôr no mar e a água rodar no sentido horário, embora minha pia agora esteja no hemisfério Sul
Ainda abro o armário dos copos procurando o sabão em pó, embora a máquina de lavar, aqui, não se encontre na cozinha; ainda levo minha necesseire de shampoos para o banheiro, embora aqui este se localize dentro do meu quarto; ainda me viro para o lado esquerdo, na cama, procurando o abajur, mesmo que aqui eu não possua um abajur; ainda acordo, diariamente, as 08 horas, horário de Londres...
Ainda tenho 2 malas, de 32 kilos cada, aguardando pacientemente no chão do meu quarto, porém agora para serem desfeitas
Ainda aqui permaneço, apenas 7 mil quilômetros mais deslocada...

"Já me fizeram muito mal", disse a senhorinha falante, no autocarro 18, um dia antes da minha partida...
Ela queria descer na Universidade, pois assim ficava mais perto para chegar em casa, empurrando seu carrinho de compras
Ela comentou que outrora haviam lhe dito a paragem errada pra descer, o que ocasionara seu cansaço pra chegar em casa
Eu ajudei-a a subir no autocarro e ela, ao saber do nosso destino em comum, comentou: "então me vou contigo"
Eu consenti, mas sentei-me distante, porque ela falava muitas coisas sem parar e eu queria me despedir dos caminhos da cidade
Ao parar do autocarro, no ponto da Universidade, desci com pressa para apanhar os cinco minutos finais dos serviços acadêmicos, e pensei que a senhorinha, lá no banco da frente, saberia que o ponto onde todos desciam, era o ponto requerido também por ela
Mas ao descer do autocarro, percebi que ela ainda lá permanecia, e olhava para trás, para onde outrora eu estivera sentada...
O autocarro, mais que depressa, fechou as portas e foi-se embora...
Conjecturei que ela desceria no outro ponto, também dentro da Universidade e talvez mais perto de algumas casas...
Talvez mais perto da casa da senhorinha...
Talvez...

Também o "talvez" ainda me acompanha...

A senhorinha, ao falar do mal, falava de portugueses
E eu, apática diante da sua fala e aterrorizada pelas possíveis respostas que me vieram a mente ( "a mim também" ou "ainda podem fazer muito mais"), disse apenas: pois...
E eu já não sei mais em que língua falei ou com qual nacionalidade agi, com ela...

"Um homem bom que não faz o bem, é um homem mau"...
Acho que serve pra mulheres também...

Um comentário:

betucury disse...

É...
Autocarros são assim.
Andam, andam e levam gente.
A mim nunca me fizeram mal.
Fizeram até que bem, um autofalante.
Falo de mim mesmo pra mim mesmo.
Espio o falar dos outros, já que mal a mim não fazem.
Xingam, gritam, esperneiam, dentro e fora dos autocarros.
Automaticamente a gente é pessoa.
Todo o mal sou eu quem faço e quando faço.
Tive a minha resposta no seu texto, talvez.
Autômato me tomo, as vezes.
Taurino me bebo sempre, porém com a lua em algum lugar mais canhoto.
Desejo cantar-lhe músicas, muitas.
Tenho certeza que uma das coisas que vc tem certa e sem talvez.
O meu canto.
Nada além disso.
Meus cantos, feitos e refeitos pra vc ouvir mais tranquila.